segunda-feira, 2 de março de 2009

Sabedoria

É triste ver uma nação desprezar seus idosos. Pessoas que viveram e ainda viverão muitos males da nossa sociedade preconceituosa. Se você é uma dessas pessoas, verá o quanto sábios são esses seres que transbordam conhecimento. Mesmo aqueles com pouca cultura.
Lembro do meu avô. Seu Deli! Ah Seu Deli. Que saudade tenho do meu avô Deli. Homem de poucas palavras, da lavoura que passou boa parte de sua vida na roça. Criou 14 filhos e ainda arrumou tempo para cuidar de mim e da minha irmã. Nunca deu um tapa e para falar a verdade, nunca precisou. Me ensinou muitas coisas que hoje coloco em prática. Caráter, dignidade, honradez e um visão diferente e real da nossa política. Quando era criança me falou certa vez que vivíamos em um país pobre. Falava que a Copa de 58 era um exemplo. Lá fora batemos em todos aqueles ricos, e de goleada. Enquanto todos acreditavam que o Brasil nunca mais seria o mesmo, Seu Deli, sempre desconfiado, sabia que tudo permaneceria do mesmo jeito. Brasileiro tem mesmo dessas coisas de apostarem num salvador da Pátria. Ele falava do boxeador Éder Jofre, que batia em todo mundo. Até apanhar de um japonês. O Japão vai longe, dizia meu avó. O Brasil também, pensava eu. Pensava.
Mas nos anos 60 o Brasil deixou de ser um país pobre. Finalmente, descobrimos muito felizes, que éramos um país em desenvolvimento. Agora sim! Pensou meu avô. Deixávamos de ser um país pobre e estávamos em processo de desenvolvimento. A gente era sub. Como sub-tenente, subgerente de loja e tantos outros sub´s que encontramos por ai. Era questão de tempo acreditava Seu Deli.
Em nosso sobrenome passou a ter a palavra “desenvolvido”, não é?
Uma década depois e ganhamos uma nova nomenclatura. Passávamos a ser conhecidos como país de terceiro mundo. Puxa! Meu avô contava que era uma grande onde de otimismo. Na nossa frente só existia o primeiro e segundo mundo. Éramos medalha de bronze! Em meses ou até anos, o gigante pela própria natureza se tornaria o campeão dessa competição mundial.
Eu pensava. Poderia ser pior! Já pensou se fossemos quinto ou sexto mundo? Mas não! Éramos terceiro.
Mas as mudanças continuaram. Em pouco tempo deixamos de ser terceiro mundo e agora fazíamos parte de um bloco dos países em desenvolvimento. A coisa estava melhorando. Já éramos um bloco, tinha outros do nosso lado, ombro a ombro. A gente era um país que estava indo para frente.
Quando entramos nos anos 90, logo nos avisaram. O Brasil não é mais um país em desenvolvimento. Éramos um país emergente. Puxa! Emergente era sair de onde estava mergulhado. Ah sim! Estávamos emergindo de onde estávamos mergulhados, da merda! Me desculpem.
Na adolescência, em um dos papos com meu avô, perguntei quem dava esses nomes todos para o Brasil. Um tal de G-7 mais a Rússia, respondeu Seu Deli. O engraçado é que a gente vai mudando de nome, mas o G-7 mais a Rússia continuam os mesmos. Cada vez mais ricos, cada vez mais primeiríssimo, desenvolvidíssimo, emergidíssimo. Esta na hora de parar para pensar que talvez toda essa evolução seja à nossa custa.
Como eles irão nos chamar na próxima década? Será que o nosso país sera conhecido como o país do Seculo XX? Ou seja, o país do século passado. Mas acredito que a melhor definição foi feita pelo meu avô, sábio avô. Somos um país pobre, em todos os sentidos, e ponto final.